Apesar de o termo estar em inglês, a ideia por trás do crowdfunding é muito antiga. Na verdade, corresponde a uma prática social bastante enraizada na sociedade. A diferença, que justifica a mudança de nome, é o poder da internet.
Isso porque crowdfunding tem significado simples: financiamento coletivo. Ou seja, arrecadar fundos em um grupo qualquer, para viabilizar um projeto qualquer. Costumávamos chamar esta prática de “vaquinha” porque, no Brasil, sempre houve experiências mais ou menos bem organizadas, como exemplos possíveis.
Nas décadas de 1970 e 1980, muitos clubes e federações de futebol realizavam bingos com prêmios como carros e motos, para tentar arrecadar um extra e cobrir suas despesas descontroladas. Embora fossem bingos, a lógica era similar: arrecadar em uma quantidade grande de pessoas, oferecendo algo em troca. Por maior que fosse o valor do prêmio, ficava diluído pelo número de participantes.
Mas, oferecer algo em troca não necessariamente faz parte do conceito de crowdfunding, como as grandes campanhas de arrecadação de fundo social, como Teletom e Criança Esperança, patrocinadas por redes de televisão aberta. Estas acontecem até hoje, mas também há exemplos de campanhas pontuais, como o Live Aid de 1985, um grande concerto com nomes importantes da música internacional, em prol dos famintos etíopes.
Como dissemos, hoje, com o poder da internet, o conceito ganhou uma dimensão muito maior, embora a pratica esteja mais pulverizada. Não é necessário querer salvar crianças na África, ou ter um tema social em mente, basta ter um projeto, qualquer um; as possibilidades estão abertas a todos nós. Vamos entender melhor o que é crowdfunding?
Possivelmente o primeiro site a ser relativamente conhecido no mundo, o Kickstarter abre a possibilidade de financiamento coletivo basicamente em países de língua inglesa – mais uns poucos como a Holanda – portanto, não é uma opção para brasileiros, mas a plataforma serviu como referência para a maioria das que surgiram depois.
Assim, existem algumas características mais ou menos comuns a todas elas:
1. O principal ponto em comum de todos os sites de crowdfunding é o fato de seus serviços serem 100% online, em tempo real.
2. A possibilidade de oferecer algo em troca da contribuição alheia, embora alguns serviços de nicho como o social, por exemplo, não permitam a prática.
3. Tudo ou nada é o modelo do Kickstarter e a maioria dos serviços segue a mesma lógica: se arrecadar tudo que precisa, ótimo, do contrário, o dinheiro do projeto é devolvido às pessoas. Mas, há algumas plataformas com opções intermediárias.
4. Praticamente todos os serviços, com raríssimas exceções, cobram uma comissão sobre o valor do projeto, que pode variar de 5 a 15%.
Além destes pontos, também há diferentes tipos de crowdfunding, sendo que nem todos os serviços permitem todos os tipos, outros, mesmo que permitam, são focados em nichos e, portanto, não faz muito sentido colocar um projeto de literatura num crowdfunding de música.
Por isso, muitos dos sites, quase todos, na verdade, mantém uma espécie de curadoria, ou seja, uma equipe que analisa os novos projetos, verificando se estão de acordo com as regras do serviço e dentro dos padrões estabelecidos, sejam quais forem. Os tipos básicos são:
1. Debt Crowdfunding. Literalmente, um financiamento de dívida. Os projetos se baseiam em uma ideia de negócio, por exemplo, fazendo uma arrecadação em troca da promessa de retorno do dinheiro, com juros, ao fim de um certo período. A legislação brasileira não permite este tipo de projeto, por isso é uma opção apenas no exterior.
2. Equity Crowdfunding. A ideia é similar ao tipo anterior, porém, ao invés de receber o investimento com juros, o colaborador do projeto se torna sócio do empreendimento, recebendo um número de ações da empresa em troca do capital investido. Este modelo está sendo atualmente regulamentado na legislação brasileira, o que significa que pode ser uma opção interessante.
3. Doação por crowdfunding. Ou seja, o tipo de serviço voltado à caridade e que proíbe recompensas. Trata-se apenas de querer ou não financiar projetos de apoio humanitário ao redor do mundo.
4. Crowdfunding com recompensa. O tipo padrão e mais difundido. Em princípio, abrange projetos de várias áreas, interesses e tamanhos. Neste caso, dependendo do projeto, há sites mais adequados que outros, por estarem focados em nichos específicos.
Finalmente, temos uma ideia bastante completa, mas você pode estar se perguntando: “ok, já entendi, vou lançar meu próprio crowdfunding, como fazer?” Como de hábito, a maneira mais fácil de explicar é imaginando um exemplo concreto, então vamos lá.
Um ponto de desconfiança muito comum é pensar: “porque vou financiar alguém que nem conheço, só para ganhar uma bobagem qualquer em troca?”. Para matar esta dúvida, vamos imaginar um projeto de nicho para este exemplo. Vamos supor que você queira fazer sua própria revista em quadrinhos.
Sim, como dissemos, praticamente qualquer tipo de projeto é possível. Mas, neste nosso exemplo, o autor do projeto terá mais possibilidades de sucesso se encontrar uma plataforma de nicho, embora nada impeça de lançar a ideia em um serviço mais genérico. A vantagem das plataformas de nicho, no entanto, é que já contam com um público específico para o aquele tipo de projeto.
Mas, vamos com calma. Ponha-se no lugar das pessoas comuns e anônimas, que irão avaliar se apoiam o seu projeto, entre tantos disponíveis. O que elas querem? No caso de histórias em quadrinhos, há um público relativamente pequeno, porém muito engajado, que costuma apoiar projetos de qualidade ou inovadores, dando menos importância aos possíveis prêmios, já que o objetivo é receber a versão final impressa do trabalho.
Cada segmento tem suas próprias características. Mantenha isso em mente. Assim, antes de lançar seu crowdfunding, a definição do conceito valores totais envolvidos e a confecção de uma amostra do trabalho, talvez um primeiro capítulo em versão digital, pode ser muito importante. É isso que vai dar uma ideia do que você está propondo ao público.
Principalmente porque, acima de tudo, caso seu projeto seja bem sucedido, conseguindo arrecadar todos os fundos necessários, você terá de entregar o que prometeu. Se calculou errado os custos, ou fizer um trabalho de qualidade inferior à promessa, provavelmente nunca mais terá a chance de emplacar outro trabalho neste formato e, muito menos, na mesma plataforma.
Pior ainda, como o público deste exemplo é pequeno e engajado, você enganou a comunidade uma vez em uma plataforma, mas eles se comunicam e se conhecem, em pouco tempo estará queimado em todo o mercado, não apenas o online. Resumindo, seu sonho foi por água abaixo.
Fora este cuidado, analise outros projetos similares, lançados na mesma plataforma que irá utilizar. Olhe os bem sucedidos, mas também preste atenção aos que não deram certo. Observar os fracassos alheios pode lhe dar uma ideia muito boa do que deve evitar no seu projeto.
Assim como as plataformas de vídeo estão lentamente matando as televisões abertas, já há muito tempo a internet praticamente extinguiu o antigo mercado de gravadoras, assim como tende a alterar radicalmente o mercado editorial. Isso já está acontecendo, não estamos falando do futuro, mas do presente.
No ramo musical, é claro que continuamos tendo grandes estrelas internacionais, contratadas pelas poucas gravadoras que sobreviveram à revolução dos anos 2000, mas a facilidade de montar um site para bandas de garagem, postar trechos de shows ou clipes relativamente bem produzidos e criativos, para todos verem livremente, pulverizou as oportunidades entre uma gama maior de artistas.
Para dar outro exemplo, você já assistiu ao filme “Perdido em Marte”? Pois bem, Andy Weir, o autor do livro, começou a lançar seus contos em um site próprio. Com o tempo, foi se aprimorando e acabou escrevendo a obra em questão. Sem pensar nas consequências, simplesmente lançou o trabalho gratuitamente em formato digital. Fez sucesso, foi descoberto por uma editora, finalmente publicado e acabou vendendo os direitos para Hollywood.
Neste caso, não houve crowdfunding no sentido que aqui tratamos, mas agora a possibilidade não apenas existe, como está aberta a todos. E para não dizer que falamos apenas de artes, existe também uma grande quantidade de boas ideias de produtos e negócios surgindo através do financiamento coletivo.
Apesar de algumas dificuldades legais, específicas do caso brasileiro, algo com que já estamos acostumados devido à morosidade de nosso sistema político, boas ideias e produtos podem muito bem receber o empurrão inicial em uma destas plataformas. Por isso, para encerrar, vamos ver algumas plataformas disponíveis no Brasil:
1. Kikante. Uma alternativa genérica, que aceita tipos variados de projetos e conta com uma base de usuários relativamente grande para os padrões brasileiros.
2. Catarse. Também aceita projetos variados, mas há toda uma comunidade mais ligada ao mundo artístico que parece preferir esta plataforma.
3. Broota. Alternativa para os que tem boas ideias de pequenos negócios. Lembre-se que a legislação brasileira ainda é um problema, portanto procure ler atentamente as recomendações da equipe do site.
Além disso, estas são apenas algumas opções, sendo que há outras surgindo a todo momento, no Brasil e no mundo.
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